domingo, 6 de maio de 2012

PERCURSOS POÉTICOS NA METRÓPOLE - TRAJETO 3: DO QUE DISSERAM

"Quem é alguém que caminha
toda a manhã com tristeza
dentro de minhas roupas, perdido
além do sonho e da rua?"

Disseram-me que era preciso aprender a ser adulta.

Mas o que fazer se meus pés ainda pisam os tênis? Se meus ombros que deveriam suportar o mundo ainda carregam mochilas? Se minhas mãos ainda amassam pacotes de biscoitos e o batom permanece intocável na prateleira?

Disseram-me que era preciso aprender a ser séria.

Mas o que dizer quando tudo é motivo de riso? Quando o patetismo absurdo extrapola a coerência lógica das palavras e das coisas? Quando uma única madrugada lúdica com pessoas amigas faz muito mais sentido do que todo um estudo da conjuntura?

Disseram-me que haveria uma guerra.

Será com tênis no pé, mochila nas costas e gracejos na língua que me posicionarei perante.

citações:
A viagem, João Cabral de Melo Neto
Os ombros suportam o mundo, Carlos Drummond de Andrade
As palavras e as coisas, Michel Foucault
Sentimento do mundo, Carlos Drummond de Andrade


2 comentários:

Geandra disse...

Poucas expressões são mais cruéis do que "é preciso...". Penso que a normatização é cruel e turva o nosso desejo... "E pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes..."

Thaís Campos disse...

As vezes me esforço tanto pra corresponder essa necessidade de ser adulta, quando se é mãe então... Embora o batom fora da prateleira, o salto, a independência e a liberdade (falsa). Me sinto completamente despreparada... E me sinto como você: mais plena de sentido em uma madrugada lúdica na presença de amigos...
Saudade.