sexta-feira, 14 de junho de 2013

AINDA SÃO TEMPOS DE GUERRA

É grito, é guerra, é multidão -
O fogo da justiça parado, em choque.

Trânsito havia; inevitável -
com outros ares, mas era trânsito.

Trânsito de carros disparados?
Não - disparados neste dia foram outras composições.

Trânsito de civis nas bicicletas?
Que nada - civil no sentido de civilização neste dia era palavra inexistente. 

Trânsito de pernas subindo os degraus dos ônibus?
Nem pensar - o que subiram foram as bombas de gás lançadas ao céu.

Não era o trânsito tendo como protagonista a matéria,
a construção linha de montagem de uma fábrica de transportes.

Não, naquele dia era trânsito de pessoas que transitavam -
exercício de cidadania transeunte por pouco praticada.
Em bloco, porque somos melhores no coletivo.

Ninguém ouviu quando a sirene tocou,
apenas o olhar para o lado e o choque na cara do povo.

Nem tempo houve para que a resistência se armasse.

A covardia se apresentava em forma de máscaras, capacetes, garras, escudos, cassetetes, motores, camburões, cavalos, balas de borracha e bombas de gás

A violência-instintiva,
a violência-desgarrada,
a violência-bode-expiatório,
a violência-desejo-mimético,
a violência-vontade-de-ser-o-opressor,
a violência-coleguinha-vamos-brincar-de-polícia-e-ladrão,
a violência-toma-uma-arminha-de-presente,-filhinho,
a violência-o-que-você-quer-ser-quando-crescer,
a violência-seus-putos-bando-de-baderneiros,
a violência-estou-provando-que-sou-macho,
a violência-só-estou-fazendo-o-meu-trabalho,
a violência-puro-prazer-eu-bato-mesmo

(momento apofático)
a violência que não se explica,
a violência não hermenêutica,
a violência não eucarística,
a violência que não traz o novo e faz relembrar que somos bárbaros.

[é sempre ela, a barbárie, a nos recordar o processo ideológico]

Uns olhos vermelhos ao meu lado -
meio assustados, meio esperançosos -
me lembravam que ainda vivíamos.

Com esforço, consigo esboçar um sorriso:
-Sim, estávamos vivas e semana que vem tem mais.
Semestre que vem tem mais.
Em dez anos tem mais.
A vida toda tem mais.

A soma de um povo é que efetua este MAIS.

Ainda vivemos.

MAIS.


(sensações pós-quarto ato contra o aumento da passagem, SP, 13/06/2013)


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